Venom-Eddie, Psicanálise de Freud
- Marcos Vinicius
- 31 de jul. de 2020
- 2 min de leitura

Eddie Brock e a trama como um todo, iniciam e fecham um mesmo ciclo: o do encontro consigo mesmo. Em termos psicanalíticos, Eddie realiza o percurso da Compulsão pela Repetição da sua personalidade. Ou seja, sua personalidade o traz de volta para um mesmo estado psíquico, levemente mais sofisticado, apesar dos conflitos e percalços durante o filme.
No início Eddie vive confortável em uma rotina conhecida junto com a namorada, é um repórter investigativo de notabilidade e sucesso. Não há elementos da sua biografia para compor uma ilustração da sua personalidade atual, o que podemos dizer é que sua vida está em um estado de energia psíquica estável e regular e há predominância da libido e dos derivados do Instinto de vida, como fica claro pela sua alegria e felicidade. Contudo, um único incidente acontece e tudo isso é deslocado e revertido.
O trauma acontece quando Eddie, na busca das glorias jornalísticas, acessa o notebook da, agora, noiva e usa informações sigilosas para entrevistar Carlton, o Executivo Chefe da Fundação Vida e assim realizar uma matéria digna da coluna que gerencia. Contudo, a partir desse momento, tudo vira do avesso. Eddie perde absolutamente tudo que é importante e que garante estabilidade para sua personalidade: o emprego, a carreira, o noivado, seu amor. Assim, sua ancora se perde e se desfaz seu autoconceito, ou seja, sua imagem de si mesmo.
Nesse momento, sua energia psíquica, em frangalhos, vai se decompondo e se desregulando completamente. O eixo da sua personalidade se perde. Eddie entra num estado melancólico e levemente depressivo. Seus instintos agora são predominantemente de morte. A oportunidade de regresso e reencontro consigo mesmo vem com a proposta da Doutora Dora Skirth para fazer uma matéria sobre os experimentos antiéticos e controversos da Fundação Vida.
De fato, a aceitação da proposta resultou no regresso de Eddie para seu estado de personalidade anterior, mas por meios sinuosos e subterrâneos. Venom aparece como o remédio amargo e dolorido para essa recuperação. Venom, enquanto espécie de duplo, permite que Eddie reencontre seu eixo, que se veja e, assim, repita a si mesmo (Compulsão pela Repetição.). Afinal de contas, Venom decide trair sua própria espécie por também se encontrar em Eddie. Reforçam reciprocamente suas próprias personalidades à revelia de qualquer externalidade.
O final do filme é emblemático no sentido do retorno e regresso, quando Venom-Eddie decidem não desistir de reconquistar Anne, num eterno processo de repetição que assegura solidez para sua personalidade. Às vezes, a ruptura significa retorno.
Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura
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