Sméagol – Psicologia Individual de Adler
- Marcos Vinicius
- 30 de jul. de 2020
- 2 min de leitura

Antes de falar especificamente do Sméagol, algumas considerações sobre os Hobbits a luz da Psicologia Individual de Alfred Adler são importantes. Existe nos Condados uma perfeição individual e social articulada. Indivíduo e sociedade se realizam, se afirmam reciprocamente e se desenvolvem em harmonia e com vigor. É justamente essa perfeição, completude perfeita, que Adler chama de “a grande pulsão ascendente” ou Busca de Superioridade. Todos somos impelidos nesse sentido de perfeição. Os hobbits exemplificam isso e vivem naturalmente um estado de superioridade adleriana.
A busca por essa superioridade é o que configura o desenvolvimento da personalidade e os hobbits, assim, representam o desenvolvimento típico, regular e saudável: percebem as inferioridades, incompletudes e imperfeições, e se mobilizam criativamente para buscar a superioridade. Essa mobilização é realizada pelo Self Criativo.
Mas os hobbits só se desenvolvem com regularidade e atingem essa meta se não forem perturbados externamente. Sair do Condado ou o Condado ser invadido representa um desequilíbrio, um obstáculo. E caso não se resolva o dilema, casos patológicos podem surgir. Esse é o caso do Sméagol.
O Anel Mestre representa a invasão e desequilíbrio, revelando um caminho sedutor para a perfeição. Contudo, é um caminho falso e uma forma degenerada de Superioridade: o Poder. Com ele, Sméagol começa a realizar suas travessuras e malicias que chega a ser expulso de casa pela sua avó. O poder é uma forma individual e alienada do social para compensar as inferioridades. É uma forma de supercompensação individual das imperfeições percebidas. Não estranha que Sméagol, ao final, se isola cada vez mais de tudo e de todos e se torna obcecado com o anel.
Essa forma individual e supercompensatória de lidar com as inferioridades é o que Adler chama de Neurose. Assim, Sméagol com o anel é um neurótico adleriano por excelência. “Por tras da doença está a tentativa patológica e ambiciosa do paciente de ver a si mesmo como algo extraordinário”, Adler.
"Eles nos amaldiçoaram.. Nos chamaram de assassino.. Nos amaldiçoaram, e nos jogaram fora!... E nós choramos precioso; onde estar o tal assassino?.... E nós esqueceu até: do nosso nome... Meeeu preecciossoooooo......" – Sméagol – Gollum
O isolamento é tão profundo que ele esquece e é esquecido de si mesmo. Sua personalidade se atrofia e para de se desenvolver. Pois só existe o Eu em relação ao Outro. Sem amigos, sem família, inteiramente atomizado e sozinho, Sméagol se bestializa e perde parte da sua condição humana. De neurótico passa a sub-humano. E assim permanece, sem qualquer redenção ou mudança.
Bônus: Frodo enfrenta o mesmo dilema de Sméagol, mas seu Self Criativo mobiliza outras estratégias além de ser amparado socialmente pelos seus amigos. Embora quase seja seduzido pelo Anel Mestre, Frodo resiste e se direciona para uma forma mais Hobbit (Adleriana) de crescer e desenvolver. Frodo escolhe um outro caminho e não se torna vítima das circunstancias.
Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura
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