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V - Psicologia de Sullivan


V sintetiza o martírio e representa uma ideologia personificada, mas que retorna, em função dos seus sentimentos por Evey Hammond, às bases humanas da sua própria existência. Para explorar esse movimento escolhemos como orientador das nossas reflexões, o psiquiatra Harry Stack Sullivan. Sullivan teoriza um conceito importante e centra: o de Dinamismo. Conforme o desenvolvimento da nossa tese, esse conceito será melhor explicado e articulado.


V faz parte de uma sociedade distópica ambientada numa Inglaterra devastada pelo fascismo e pelo controle simbólico. Nada de autenticamente humano prospera na asfixia da vigilância ostensiva do Estado e das medidas “Para sua proteção – For your Protection” propostas pelo Chanceler Adam Sutler e pela alta cúpula do governo. Nessa sociedade, a violência física e simbólica é perpetrada pelos Dedos-Duros contra qualquer ato heteronormativo que são punidos como traição ou sedição.


V se protege do embrutecimento típico desse fascismo a partir da arte, tanto que a primeira aparição de V no filme já dá a medida dessa sua existência: V é a encarnação da ideia e da arte. Seu primeiro discurso são versos aliterados em V enquanto ele salva Evey, depois a sinfonia dos canhões do Tchaikovsky enquanto explode um prédio simbólico do regime. Esse aspecto artístico é o que configura o primeiro Dinamismo de V.


Dinamismo, para teoria de Sullivan, é uma forma recorrente de usar sua energia psíquica, ou seja, são as maneiras habituais da psique de se mobilizar. Em outras palavras, é seu comportamento usual e regular. Segundo Sullivan: “um invólucro contendo diferenças particulares insignificantes”. V tem o Dinamismo da Ideia.


Esse Dinamismo é reforçado na Identidade de V. V não lembra de nada, nem seu nome, nem de onde era. Assim sua identidade começa a ser composta, como num mosaico, a partir de referências culturais. V é um Shakesperiano que gosta de filmes antigos como O conde de monte Cristo que é seu filme favorito e por isso luta com espadas e não com armas de fogo.


Além desse Dinamismo da Ideia, V tem outro. O Dinamismo do Determinismo. V é casualista e pensa a realidade como uma sequência rígida de causas, ou seja, uma cadeia inescapável de eventos. Na cena que Delia, medica de Larkhill responsável pelos experimentos, é morta, V diz: “não vim aqui pelo que você queria ou esperava fazer mas pelo que você fez”


Esses dois Dinamismos constituem o núcleo da personalidade de V: uma Ideia encarnada e impessoal sempre articulada com um determinismo. Contudo, por influencia de Evey, um novo núcleo de Dinamismo começa a se formar. O Dinamismo do Amor e do Sentimento. V parecia ser só ideia abstraída, mas ele sente, ainda é humano, algo que ele pensou não ser mais depois de tanto tempo.


Esse novo Dinamismo começa a despontar e se consolidar. Mas, embora esse Dinamismo comece a tomar forma e se constituir, sua condição como um sobrevivente de Larkhill o impede de desenvolve-lo e aprofunda-lo. Esse novo núcleo não tem força suficiente para se assenhorar da personalidade de V e assentir ao pedido de Evey realizado com um beijo de saírem juntos dali. V retorna ao seu Dinamismo da Ideia e morre como símbolo martirizado da sua causa revolucionaria.


Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura

 
 
 

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