Fera - Psicologia da Libido
- Marcos Vinicius Cieri de Moura
- 25 de nov. de 2020
- 2 min de leitura

A Fera é vítima de uma maldição que o condena a viver de forma abjeta como uma criatura horripilante e desprezível por conta da sua arrogância e frieza. Sua maldição é a punição da soberba desmedida, o mito da Hybris Grega, a personificação da insolência. Nada melhor para analisar isso do que Freud e a Psicanálise que tanto contribuíram na interpretação do sujeito.
Viver como Fera e aprender a amar são as lições impostas de fora para dentro que surgem como imperativo para o amadurecimento. O drama psicológico da Fera, nesse sentido, é um movimento que vai do Narciso para o Eros.
Antes de falar sobre a passagem do Narciso para o Eros, cabe explicar de que forma esses dois se diferenciam sob a ótica da psicanálise. Para ajudar a compreender a diferença, vamos falar brevemente sobre catexia e libido.
A libido é a energia sexual que dinamiza o psiquismo, ou seja, é a energia psíquica em si. É a libido que orienta as pulsões e impulsos. A libido, para realizar sua função como motor, precisa ser investida. O nome técnico para esse investimento da libido chama-se catexia. Há dois destinos para esse investimento: interno (Narciso) ou externo (Eros).
O catexia direcionada internamente reforça estruturas e concepções narcísicas do sujeito que negam ou anulam o reconhecimento do Outro. E é essa forma de catexização que vemos na Fera quando ainda era um príncipe arrogante. Esse é o momento de Narciso da Fera. De estirpe nobre, cultivava hábitos individualistas que o afastava do mundo social e dos outros.
Logo após se transformar em Fera, começamos a observar algumas mudanças. Ocorre uma reclusão e isolamento do personagem que denuncia uma consciência aguda e dolorosa do Eu narcísico e a possibilidade de reorientação para a catexização externa.
A catexia externa, ou seja, a libido investida em um objeto externo ao indivíduo é a condição do Eros. É nessa forma de libido que o sujeito cria vínculos e se relaciona com o Outro, reconhecendo esse Outro e amadurecendo.
A Fera se livra da maldição apenas quando aprende a reconhecer o Outro completa e radicalmente. A maneira do reconhecimento do Outro conduzido pela Fera é o Amor. É apenas assim que a catexia externa se completa e o Eros se realiza. Ao final, o percurso de Narciso para Eros está realizado e a catexia, portanto, reorientada para fora.
Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura
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