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Shikamaru - Psicanálise



Shikamaru é um gênio sem opção, nasceu assim. Sua genialidade intelectual não vem do esforço, mas do acaso. Enquanto alguns aprendem a conviver com suas fraquezas, outros não toleram sua própria força. Shikamaru é esse último tipo de pessoa e, nesse sentido, se entedia com a realidade porque ela não oferece quase nada de estimulante e engajador para ele. É justamente o tédio a marca e o melhor qualificador do personagem que vamos explorar. Escolhemos a Psicanálise para subsidiar teoricamente as reflexões sobre a personalidade do Shikamaru.


O percurso que iremos percorrer para delinear a personalidade entediada do Shikamaru vai consistir em descartar concepções de tédio que não se conformam a personalidade e evidenciar conceitos mais ajustados que explicam e dialogam com o que há de mais fundamental do personagem.


Uma primeira concepção diz respeito ao spleen. O tédio dessa natureza se caracteriza por um abatimento melancólico reflexivo. Acabrunhado, em um estado permanente de desânimo, significa dizer que sua libido (energia psíquica) se encontra atrofiada e despontecializada. Pessoas assim entediadas são ligeiramente depressivas. Esse tipo de tédio não se enquadra em Shikamaru. Embora ele desista de algumas tarefas, não faz isso por desânimo, mas por desinteresse.


Uma segunda concepção traz a ideia de apatia. Tédios assim são conhecidos pela incapacidade de resposta do sujeito diante do mundo. O sujeito não consegue se mobilizar em virtude de um princípio da realidade debilitado que não consegue mediar as exigências e se vê imobilizado. Assim, o sujeito não consegue estabelecer vias concretas para responder às demandas do mundo e fica, assim, impedido psiquicamente. Essa concepção também não dialoga muito com Shikamaru.


Por fim, podemos falar de uma terceira concepção de tédio, a qual configura a melhor forma de compreender a personalidade entediada do Shikamaru. Trata-se da angústia existencial da finitude. Essa angústia passa pela constatação que não há nada melhor e que gostaria de algo mais. Na ausência desse algo mais, Shikamaru se revela desengajado e desinteressado.


Quando ele diz que algo é chato e complicado porque daria trabalho fazer aquilo, é uma preguiça que denuncia apenas desinteresse. "Ahh, vou ter que fazer isso mesmo? Que coisa chata." Por exemplo, nesses momentos desestimulantes Shikamaru prefere ser uma nuvem.


Esse tipo de tédio é próprio da condição humana. A angústia existencial revela uma consciência aguda e perceptiva, mas que não chega a ser desgostosa da sua realidade. A realidade é que a energia psíquica disponível não encontra atividades suficientemente engajadoras para que seja utilizada. Dessa maneira, há sempre um sentimento inquietante de incompletude. Shikamaru vive o dilema entre gastar essa energia e continuar insatisfeito ou apenas não fazer nada e se poupar.


Shikamaru, como consequência desse tédio, mostra uma inteligência penetrante e implacável. Sua genialidade vai no sentido comum do termo de possuir um exímio raciocínio lógico capaz de simular cenários futuros alternativos. Contudo, mesmo que essa personalidade entediada seja o princípio mais revelador do personagem, Shikamaru é maduro e seguro o suficiente a ponto de ter um senso sólido de responsabilidade e liderança, além de também se esforçar para desenvolver sua afetividade amorosa com Temari.


Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura


 
 
 

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