Orochimaru – Psicologia Analítica de Jung
- Marcos Vinicius
- 8 de ago. de 2020
- 3 min de leitura

Orochimaru é um personagem elusivo e bastante fluido. Não se encaixa em analises reducionistas e a experiencia de observa-lo se mostra irresistível. Sua existência é antes estética e só depois reflexiva. Não surpreende, nesse sentido estético, que ele funde uma aldeia: A do som. E o som representa parte do que ele é: indefinido, mas real. Profundo, mas sem lugar conceitual claro. Para explorar um pouco de Orochimaru e esse aspecto, escolhemos o psicólogo Carl Gustav Jung como nosso guia.
Uma primeira observação, controversa por natureza, mas que deve ser feita, é a suspeita da pedofilia de Orochimaru. Existe uma regularidade nos planos de Orochimaru em convocar prioritariamente jovens meninos promissores para conseguirem mais poder e se tornarem fortes. Ainda que se sustentasse e fosse verdade essa tese sexual, de tão sintomático que é a pedofilia nesse caso, nada explica da personalidade e da psique do Orochimaru. Na verdade, olha para um lado falso e muito especulativo. Jung como um opositor da etiologia sexual de Freud, nos ensina que nem tudo é erótico e sexual. E é isso que vamos explorar aqui.
Esse é o desafio maior do Orochimaru que está além da tentação sexual evidente e distrativa, pois Orochimaru é um enigma em si: Quem é ele e o que ele busca? Nem ele sabe. Por isso busca tudo: todos os Jutsus que apenas uma existência não o daria tempo suficiente. Assim, Orochimaru representa o arquétipo da inquietude humana e da curiosidade. Em termos arquetípicos de Jung, Orochimaru é o Guerreiro Arauto da Nova Era, que saca a sua “Espada”, Kusanagi, como símbolo arquetipal de inteligência, determinação e sobretudo coragem em busca da Consciência mais Elevada, ultrapassando a própria fragilidade, e, encontrando-se com seu “verdadeiro EU”.
Essa busca, contudo, não o leva ao encontro de si mesmo. Pois, não sendo nada em especifico e buscando tudo em absoluto, Orochimaru é indistinto e indefinido. Não há base para sua identidade. Duas coisas evidenciam isso: primeiro que na sua voz há uma fluidez que se perde na indefinição de gênero. Existe aí uma modulação sedutora como se a própria voz nos envolvesse e fosse a cobra. Segundo, não há fundamento afetivo para suas decisões, assim como o vento ao sabor da sua curiosidade, as pessoas são apenas convenientes na medida que são uteis.
Tudo isso fica muito evidente durante a invasão da Aldeia da Folha, quando Orochimaru e Sarutobi (Terceiro Hogake) se enfrentam numa luta épica. Depois que Sarutobi disse que Orochimaru ficaria feliz em matar e humilhar o próprio mestre que o rejeitou como herdeiro para Hogake, Orochimaru diz que está com o sono e não tem rancor de não ter sido nomeado Hokage. Então Sarutobi continua:
- Terceiro Hogake (Sarutobi): “Então parece que você não tem nenhum objetivo ou motivo”
-Orochimaru: “Eu acho que tenho um objetivo sim”; “Eu acho muito interessante ver as coisas em movimento, eu não sinto nenhum prazer quando o mundo está parado, como um moinho de vento que não gira “
Essa frase de Orochimaru mostra o quanto sua decisão é fundada na imprecisão. Ele não tem um objetivo, mas acha que tem. E o único que ele acha ter é, no fundo, um objetivo estético e fluido como ele: ver as coisas em movimento. Assim, Orochimaru é no fundamento um esteta com aparência de cientista. Um guerreiro em busca de si mesmo que nunca se acha, porque se desencontra. Orochimaru é o humano confuso e sem identidade.
Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura
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