Kratos – Psicanálise neofreudiana de Erik Erikson
- Marcos Vinicius
- 11 de ago. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de nov. de 2020

Para compreender a personalidade de Kratos, escolhemos Erik Erikson, um neofreudiano que sublinha a importância da cultura para a personalidade. Em suas palavras: “A anatomia, a história e a personalidade são nossos destinos combinados.”. A contribuição mais notável de Erik Erikson é a do Desenvolvimento Psicossocial. O desenvolvimento é realizado em oito etapas, cada estágio é composto por uma crise, uma ritualização e um ritualismo próprio. Para Kratos, o Estágio mais pertinente e que vamos analisar é o quarto estágio: o Estágio do Propósito (conhecido como Idade do Brincar).
Esse estágio é caracterizado pela crise: Iniciativa X Culpa. É o momento do desenvolvimento em que se busca o norte da existência, os objetivos e metas e se desenha a relação com seu próprio destino. Nesse sentido, é fácil observar que a história de Kratos é a história da culpa. Uma culpa que se reformula durante toda a saga, mas tem um início incontestável e claro.
Tudo começa na sua cidade natal: Esparta. Esparta inculca na juventude a medida do homem perfeito, nunca alcançável. Assim, a culpa é inflada culturalmente numa sociedade em que a perfeição e excelência são métricas da existência. Imerso nessa cultura, da busca na perfeição espartana, em um incidente, Kratos perde o irmão. Não se perdoa e promete nunca mais falhar. Daí para frente, toda a história são variações da não aceitação da própria falibilidade e da não compreensão da culpa.
Essa não-compreensão da real natureza da culpa fica posto e exemplificado quando Kratos se torna uma espécie de psicopata por influência de Ares. Cruel, desumano e brutal, Kratos se torna o guerreiro perfeito moldado a partir do deus da guerra. Levando a destruição a todos os lugares e nunca sentindo culpa por nada, por que espartano perfeito que é. Num acesso de raiva mata, inadvertidamente, numa chacina coletiva sua própria família em um templo.
Num lampejo de lucidez e compreensão de culpa, renuncia lealdade a Ares e jura mata-lo. Mata-o, e depois serve o Olimpo como o novo deus da Guerra. Seus pecados, contudo, não são perdoados. Epopeia recomeça. Muitas reviravoltas acontecem e Kratos busca resolução final numa tentativa de suicídio.
Para que essa crise da Iniciativa X Culpa encontrasse resolução psíquica seria necessária uma ritualização especifica dessa crise. Para esse estágio, a ritualização segundo Erik Erikson é a Dramatização. Fenômeno psíquico em que se experimenta possibilidades de existência e busca uma maneira de arbitrar o próprio destino. Contudo, Kratos está preso pelos fios do Destino das Moiras e não consegue dramatizar seu próprio caminho.
Assim, o que resta é o reverso da moeda que é o ritualismo. Nesse estágio, o ritualismo é a Personificação. Consiste em aceitar papeis impostos ou idealizar papeis que não são a própria pessoa. Isso fica claro ao fim, quando Kratos cumpre a profecia do guerreiro marcado que destruiria o Olimpo. Ou seja, personificando o destino que lhe foi dado.
-Pelos deuses, o que eu me tornei?: "Kratos"
-Morte. O destruidor... de mundos.: "Coveiro."
Ao fim, cumprido seu propósito, Kratos pensa se ver livre e se reconcilia com seus pecados e suas faltas. Tenta um segundo suicídio. Mas a resolução do estágio não vem. Kratos não compreendeu ainda sua luta. A saga continua com os desencontros, agora em terras escandinavas e em meio a Deuses nórdicos.
Análise por Marcos Vinicius Cieri de Moura
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